compositor, pianista, teórico musical



43.

Ratatoskr (2015)

para piano solo.

Ratatoskr” é uma pequena peça para piano solo de oito minutos que consiste basicamente da parte de piano da minha peça Yggdrasill desmembrada do grupo de sons acusmáticos que a acompanham. Ao ouvir esta parte de piano sozinha quando do processo de mixagem em estúdio de Yggdrasill, eu me maravilhei com quão bonita ela soava deixada à sua própria conta. Eu especialmente me encantei pela maneira expressiva com que os inúmeros espaços vazios entre as interjeições do piano pareciam reverberar e prolongar a presença de seus respectivos eventos musicais precedentes, não sempre literalmente mas às vezes apenas de uma certa maneira psicológica.

Outra coisa é que, pensando sobre técnicas de montagem, normalmente percebemos que um todo montado tende a transcender a mera soma de suas partes. Aqui nota-se que o contrário também é verdade: a subtração de uma das camadas constituintes de uma composição não resulta em um mero subconjunto da composição original. Ao invés disso, tal subtração normalmente produz uma entidade musical totalmente nova, pois os equilíbrios entre as forças musicais na composição original e em sua versão “subtraída” dificilmente terminam sendo os mesmos.

E eis então a oportunidade da parte de piano de Yggdrasill ter uma vida para e por si própria como Ratatoskr. Ratatoskr é um esquilo mítico da mitologia Nórdica que corre de cima a baixo pela árvore do mundo Yggdrasill, transmitindo mensagens maldosas entre uma águia sem nome que mora no topo da árvore e um dragão-serpente chamado Nidhoggr, que vive mastigando as raízes daquela árvore. Ratatoskr é mencionado no capítulo XVI do Gylfaginning da Edda em Prosa:

“Então Gangleri disse: 'Que maravilhas mais podem ser ditas do Freixo?'
Harr respondeu: 'Muito pode ser dito dele. Uma águia repousa nos galhos daquela Árvore,
e ela tem a compreensão de muitas coisas;
e entre seus olhos repousa o falcão chamado Vedrfolnir.
O esquilo chamado Ratatoskr corre para cima e para baixo pela extensão do Freixo,
portando ofensas trocadas entre a águia e Nidhoggr';”

Snorri Sturluson, A Edda em Prosa (c. 1220); Gylfaginning‍, capítulo XVI; traduzido da versão inglesa de Arthur Gilchrist Brodeur (1916).



partitura: gravação:

Piano: Marcus Bittencourt

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